Celebra-se no próximo dia 17 a Festa Litúrgica de Santo Antão,
também conhecido como Santo Antão do Deserto, do Egito, o Eremita, o Grande, o Anacoreta ou o Pai de Todos os Monges, foi o primeiro iniciador de uma vida religiosa.
Em virtude de no Latino o seu nome ser Antonius, tem por isso suscitado confusões, pela homonímia, com Santo António.
Santo Antão, cuja imagem é venerada em Évora na Igreja de Santo Antão ou Igreja Paroquial de Santo Antão, de que é Patrono, sita na Praça de Giraldo, nasceu em Tebaida no ano 251 d.C. e faleceu a 17 de Janeiro de 356 d.C. com a idade de 105 anos.
Por julgarmos de interesse e oportuno transcrevemos o texto referente ao tema 133 (A barba de Santo Antão), do Livro Prioridades 3 editado em 2014, da autoria do Cónego Manuel Maria Madureira da Silva, Reitor e Pároco da Igreja de Santo Antão.
"Santo Antão não nasceu com barba. Só faltava! Também não nasceu santo, assim, com auréola e tudo. Nasceu sem auréola e sem barba. Só depois é que veio a barba e também a santidade. É muito cómodo dizer quer os santos já trazem a etiqueta de santos e que os outros - os outros que somos nós - não nascemos para santos nem temos por que nos incomodar.. É muito comum dizermos que não temos etiqueta de santos. O que nos falta não é etiqueta, é barba. Barba para acometer as tentações e vencê-las, como Santo Antão. Antão nasceu rodeado de grandes dificuldades para ser santo e de grandes facilidades para ser um patife. Os pais dele eram os mais ricos da localidade: grandes extensões de terrenos férteis, abundância de trigo, aveia e cevada. À época, as suas vinhas produziam excelente vinho. Nos seus campos pastavam inúmeras cabeças de gado. A sua casa solarenga estava edificada na colina sobranceira, rodeada de figueiras e palmeiras. Estas circunstâncias eram mais que propícias para que lhe não nascesse a barba. Aos 20 anos, perdeu os pais e ficou senhor absoluto de toda aquela riqueza. Um dia, pegou no Evangelho, abriu-o e leu o seguinte: "Se quiseres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres; depois vem e segue-Me e terás um tesouro nos céus".
Antão fechou o livro e pôs-se a pensar. Passou a mão pela face que ainda estava lisa, muito lisa. Antão sabia que aquela frase do Evangelho tinha sido dita por Cristo. Que novidade! Também nós sabemos ! Antão disse, de si para consigo, que estas coisas ditas por Cristo têm de se observar à letra. Nós, pouco depois de lermos essa frase, distraímo-nos. Apodera-se de nós um interesse repentino de sabermos o que diz o texto na página seguinte e, assim, esquecemo-nos do que dizia a anterior. É um recurso muito manhoso que usamos nós, cristãos velhos e espertos. Antão não era assim. Era um cristão novato. Estancou naquela frase, fechou o livro, foi para casa e começou a vender. Vendeu o trigo, a aveia e a cevada. Vendeu as terras. Vendeu as ovelhas, as cabras e o último camelo. Depois começou a repartir o dinheiro com aqueles que não o tinham. No seu tempo, havia muitos pobres, necessitados. E hoje também. Já só lhe faltava cumprir o mais custoso: Vem e segue-Me. Naquela noite, foi para o deserto. Aí, tornou a pensar e a passar a mão pela cara. Picava. Já tinha barba. Pois está claro que tinha! Era mesmo preciso ter barba para fazer o que fez. O demónio é que não estava disposto a deixar crescer a barba do Antão, porque podia pegar a moda e começarem a aparecer homens de barba inteira ...
E começou a barafunda. O demónio tentou Antão, exatíssimamente com as mesmas coisas e pessoas com que nos tenta a nós. Insinuava-lhe - como nos insinua a nós - que continuasse agarrado aos bens, ao dinheiro, que se deixasse de tolices, que não fosse parvo! Antão voltava-se e respondia que queria ter e viver o espírito de pobreza! E, de cada vez, a barba crescia-lhe duas polegadas. Depois foi a vez das tentações da carne: o mesmo , o mesmíssimo que a nós, mas muito mais. Antão via e sentia tudo: preguiça, gula, luxúria, porque tinha, como nós, um corpo de carne e osso, não de plasticina como alguns poderão pensar. A todas estas tentações reagia categoricamente com vontade rija. Chamava-se isso ter barba: vários palmos da barba mais legítima. Faltava ainda a pior tentação: o mundo, a vaidade, a soberba, ser importante. Quando nos dizem que fazemos isto muito bem, que naquilo somos formidáveis, inchamos como câmaras de ar e acabamos na supina estupidez de nos julgarmos alguém. É nisso que todos mergulhamos de cabeça. Todos, menos Antão, porque Antão tinha barba para tudo isto. Aos que bajulavam, ouvia-os amavelmente; mas, no fim, atirava-lhes à cara três palavras pesadas: Rua! fora daqui"! Dava meia volta e metia-se outra vez na cova. Mais uma légua de barba!
ARMANDO RIBEIRO
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